Companhias para um capuccino

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Gringa

Luzia é uma puta de afetos. Ao menos, foi o que ela me disse. Eu, particularmente, confesso que a comeria mesmo que tivesse de pagar. Não que eu já não o faça, gastando o miserê que me sobra do batedor com prendas de todo custo para custear as nossas boas trepadas.

Ela adora essas bajulações, mas finge que não faz conta disso e daquilo. E eu até acho graça nesses trejeitos, mas me viro nos trambiques para descolar cacife e bancar os seus caprichos; - é que me vexa pensar que não posso lhe oferecer o bastante.

Mas a danada é "ponto-morto de choferes; passadiço de navais". Vive a gabar as pretensões de morar no estrangeiro. E é na cama do seu quartinho de fundos, no cortiço do beco, que poliglota em cima de inglês, francês e alemão, para tirar o seu passaporte.

Dia desses, depois duma dessas gozadas que deixam qualquer diabo apaixonado, eu assuntei com a batuta:

- Ô, Luzia, se você for pros estrangeiro, me leva contigo?

- Oxe, homem! E pra quê?

- Como pra quê, minha nega? Quem vai lhe dar esse dengo todo? Ou você pensa que esses gringo muquirana vão lhe ter essa estima que eu lhe tenho?

Só que a vagabunda, por essa luz que me ilumina, soltou uma risada do Satanás e me sussurrou:

- E estima enche barriga?