Companhias para um capuccino

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Transe

Depois de transarmos sem grandes pretensões amorosas, estava ela defronte a janela do apartamento com ares de satisfação. E pela direção de seus olhos, parecia fitar a rua em que o meu carro havia sido estacionado; se não, o próprio carro.

Da cama, fiquei a tateá-la de vista por algum tempo. Penso que não a inibi com isso, pois ao se dar conta do que acontecia, sorriu permissiva e espreguiçou vagarosamente.

No entremeio desses vislumbres, a tarde parecia se esvair tão vagarosa quanto o espreguiçar. Deduzi pela luz castanha que aproveitava a janela aberta para sobrepor-se e cobrir boa parte do corpo dela, branco e longilíneo, desnudado frente a mim.

E como que se não nos bastasse essa invasão descarada do abajur vespertino, a quentura de todo um dia de verão intenso nos adentrava os poros afogados em suor, e tomava-nos o quarto.

Nós ficamos assim, aquecidos e acompanhados pela primeira vez e por algumas horas.